Em um mundo ideal, as plantas não precisariam de aprovação para crescer.
Os meus leitores já devem ter descoberto que eu adoro epígrafes. Descobri outro dia que tem um senhor que rivaliza comigo: Cleiber Vieira, presidente da Associação Sergipana de Imprensa. Ele me confessou, em um bate papo animado sobre suas produções literárias, que adora usar este recurso.
Não bastava ser professor, historiador, economista e jornalista, Cleiber, descobri, é ainda um estudioso de cabala há quatro décadas e tchan tchan tchan: usa epígrafes como eu. Mas, calma, não é de cabala que trata este texto, mas da sua epígrafe, sobre um mundo ideal, uma noção filosófica ou teórica de perfeição.
Imaginem vocês, a epígrafe como aquele convidado especial na festa do seu texto: chega dando um toque de classe, sussurra segredos ao ouvido do leitor e prepara todos para a viagem que está por vir. Ela é aquela amiga que, com uma frase certeira, põe todo mundo no clima, às vezes com um sorriso malicioso, prometendo camadas de intriga, fofocas e profundidade.
Confesso que como a maioria dos mortais, gosto das novidades e fofocas. E se a epígrafe for do tipo irônica, preparem-se, pois vai jogar os leitores numa piscina de reflexões com um empurrãozinho nas costas, deixando a mente borbulhando de perguntas antes mesmo de mergulhar na sua história.
Bem, mas nem sempre é fácil encontrar uma que combine com o texto. Até porque, quando eu começo a escrever, muitas vezes, eu sequer sei que tema vou desenrolar. Este é um destes dias: o editor ficou me pressionando e eu, que pensei ser mais bem analisada, ainda vou precisar de mais alguns anos para dizer não a certas criaturas horrorosas e persuasivas e por que não dizer, sedutoras. Mas enfim, este é outro assunto…
O que eu queria dizer mesmo, é que quando eu não sei do que vou escrever, eu deixo a epígrafe e o título, claro, para o final de tudo. E as vezes dá um trabalhão, porque gosto que a epígrafe faça interface com o texto, e muitas vezes tenho que voltar para fazer este encaixe e arranjos.
Enfim…enfim…
Hoje, vamos falar sobre um assunto que é, ao mesmo tempo, sério e um pouco cômico, dependendo de como você olha para ele. Sim, estou falando da nossa querida Anvisa e a saga da cannabis medicinal no Brasil.
Vamos começar falando sobre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa -, essa entidade que todos nós, profissionais de saúde, respeitamos e, às vezes, odiamos e questionamos (só um pouquinho, vai!). É como aquela tia rigorosa nas festas de família que não deixa ninguém sair da linha. A Anvisa é essencial na regulamentação dos produtos de saúde no Brasil, garantindo sua eficácia, segurança e qualidade.
Mas aqui entre nós, parece que quando o assunto é cannabis medicinal, a Anvisa faz a linha “tia conservadora”. Aquele tipo que favorece as indústrias farmacêuticas tradicionais, deixando de lado as inovadoras e naturais soluções locais.
Voltando para a nossa epígrafe, “Em um mundo ideal, as plantas não precisariam de aprovação para crescer”, aqui estamos nós, discutindo o quão difícil é para a pobre cannabis ser aceita em território brasileiro.
Ah, antes que eu esqueça, faço um importante parênteses. Achei essa epígrafe, uma verdadeira pérola de sabedoria e humor que nos faz refletir, não é mesmo? Ela encapsula perfeitamente a ironia da situação que enfrentamos. No nosso contexto, ela ressalta a peculiaridade de como algo tão natural como uma planta pode se tornar objeto de tantas controvérsias e regulamentações.
E mais: como não achei nenhuma epígrafe para este texto, eu fui obrigada a criar esta frase, tipo “eu mesma fiz, eu mesma gostei”, e portanto, peço a gentileza que se vocês forem usá-la oportunamente, não se apropriem, simplesmente me dêem os créditos.
Passados estes arroubos narcísicos, voltemos ao tema!
Em 2023, houve um salto de 130% no número de pacientes que utilizam Cannabis Medicinal, chegando a 430 mil almas buscando alívio. E o que isso nos diz? Que o povo brasileiro está mais aberto a novas formas de tratamento, ou que a Anvisa está atrasada na festa regulatória?
A realidade é um pouco de ambas. Enquanto produtos importados nadam de braçada no mercado brasileiro, pagos em dólares e com eficácia e segurança questionáveis, os produtos nacionais, aqueles feitos com carinho e dedicação por associações de pacientes locais, enfrentam mais obstáculos do que atleta em pista olímpica.
E não é só uma questão de saúde, é uma questão econômica também. Ao não valorizar as iniciativas locais, estamos perdendo empregos, limitando nosso potencial científico e, o mais doloroso de tudo, restringindo o acesso a tratamentos mais econômicos. Isso não é apenas uma pedra no sapato da economia, mas um soco no estômago da saúde pública.
Portanto, é hora de a Anvisa reconsiderar suas políticas. Precisamos de uma abordagem que abrace a diversidade, a inovação e a equidade. A excelência regulatória deve contemplar todas as alternativas terapêuticas, mostrando que, no final das contas, todas as plantas merecem crescer – especialmente aquelas que podem trazer alívio e bem-estar aos nossos pacientes.
Nossas estruturas regulatórias parecem, às vezes, desconectadas da realidade natural e orgânica da vida. Ela nos convida a questionar e, quem sabe, a sonhar com um mundo onde a saúde e o bem-estar não sejam emaranhados em complexidades regulatórias, mas floresçam tão naturalmente quanto as plantas em um jardim ideal.
E assim, meus amigos, concluímos nossa análise da situação. Lembrem-se, no mundo da saúde, às vezes, um pouco de humor é o melhor remédio! E claro, uma política regulatória mais aberta e equitativa também não faria mal a ninguém.
originalmente do JLPolitica.com.br