“Onde está o id, deve advir o ego” Sigmund Freud
A vida nos empurra constantemente em direções que nem sempre compreendemos. Somos impulsionados por desejos, medos e ansiedades que muitas vezes não conseguimos nomear ou entender.
E é nesse terreno nebuloso que a psicanálise entra, como uma luz que ilumina os cantos mais profundos do nosso ser, revelando aquilo que evitamos ou sequer sabíamos que existia.
Mas para embarcar nessa jornada, é preciso coragem. Coragem para confrontar o que está dentro de nós e, mais importante, para aceitar que o processo de autoconhecimento não é simples nem rápido.
A psicanálise, como propôs Freud, não é apenas uma terapia para “curar” sintomas. Ela é um convite para cavarmos fundo até as raízes do inconsciente, até as partes de nós que criam os sintomas que sentimos na superfície.
É aí que se diferencia de outras abordagens psicoterápicas: a psicanálise busca não apenas o alívio temporário, mas a transformação genuína. E, para isso, exige paciência e, acima de tudo, coragem.
Muitas pessoas entram no consultório psicanalítico com uma dor específica, uma angústia que as atormenta, seja ela uma fobia, uma ansiedade ou uma depressão. Essas pessoas, muitas vezes, esperam uma solução rápida, algo que alivie o sofrimento imediato.
No entanto, a psicanálise nos pede algo diferente: ela nos pede para irmos além do alívio imediato e questionarmos as causas mais profundas de nossas dores. Essa é uma tarefa desafiadora.
Porque olhar para o nosso inconsciente significa lidar com as sombras do passado, com os traumas e os desejos que muitas vezes preferiríamos manter ocultos. Freud nos alertou para o fato de que o inconsciente governa grande parte de nossas vidas, e só podemos entender quem realmente somos se estivermos dispostos a escutar o que está por trás das máscaras que usamos diariamente.
E é aqui que a epígrafe aí acima ganha nova vida. Quando Freud diz: “Onde está o id, deve advir o ego”, ele nos chama para essa jornada de autodomínio, onde não deixamos nossos desejos inconscientes dominarem nossas escolhas, mas trazemos à luz da consciência para guiar nossa vida. Não é um processo simples, tampouco rápido, mas é, sem dúvida, o mais completo.
Existem várias abordagens terapêuticas no mundo moderno. Algumas focam em modificar comportamentos, outras em mudar padrões de pensamento, e muitas são extremamente eficazes em resolver problemas pontuais. No entanto, o que diferencia a psicanálise é que ela vai além de tratar o sintoma. Ela busca entender a sua origem.
Imagine um iceberg. O que vemos na superfície é apenas uma pequena parte, o sintoma. A psicanálise mergulha nas profundezas, onde se encontra a verdadeira base desse iceberg, nas forças inconscientes que o sustentam.
Se lidamos apenas com o que está visível, corremos o risco de o problema voltar, de outra forma, em outro momento, ou com outra intensidade. A psicanálise se propõe a transformar a estrutura inteira, trazendo à tona aquilo que permanece oculto, para que possamos ter controle sobre nossas escolhas e não sermos mais controlados por elas.
Um processo psicanalítico pode ser longo e, para muitos, isso é visto como uma barreira. Porém, essa duração não é um defeito, mas uma característica intrínseca à profundidade que ele exige. A psicanálise não se contenta em resolver rapidamente uma questão pontual, porque entende que, para uma transformação verdadeira, é preciso tempo.
Assim como uma planta precisa de tempo para crescer e florescer, o mesmo acontece conosco no processo psicanalítico. E é justamente nessa caminhada que vamos percebendo a importância da coragem. Enfrentar nossos fantasmas internos, revisitar nossa história e questionar as narrativas que construímos sobre quem somos demanda uma força extraordinária.
Muitos abandonam o processo ao se deparar com suas próprias sombras, mas aqueles que persistem descobrem que o autoconhecimento é a chave para uma vida mais autêntica e satisfatória.
O inconsciente, com seus mistérios e sutilezas, exerce uma influência poderosa sobre nossas decisões e comportamentos. Embora suas manifestações sejam muitas vezes sutis, o impacto em nossa vida é profundo.
Escutar esses sinais silenciosos e compreendê-los é o que torna a psicanálise uma jornada transformadora. A voz do inconsciente é suave, mas ela não descansa até ser ouvida.
Outras abordagens terapêuticas, embora valiosas, muitas vezes oferecem soluções mais superficiais ou imediatas. A psicanálise, por outro lado, se propõe a trabalhar de forma ampla, conectando passado, presente e futuro. Ao escavar nossas memórias, nossos traumas e desejos reprimidos, ela permite que façamos escolhas mais livres e conscientes no presente.
Essa abordagem completa, que não se limita a suprimir sintomas, mas visa transformá-los pela raiz, faz da psicanálise uma prática psicoterapêutica incomparável. Não se trata de desqualificar outras abordagens, que podem ser úteis em contextos específicos, mas de reconhecer a psicanálise como um caminho mais profundo, que exige e oferece mais.
A coragem de enfrentar esse processo longo e, por vezes, doloroso, é recompensada com um entendimento mais profundo de si mesmo. E essa é uma transformação que realmente dura. A complexidade e profundidade da psicanálise continuam a ser um diferencial para aqueles que desejam não apenas curar, mas transformar.
O poder da psicanálise reside em sua capacidade de nos permitir escutar o que há de mais profundo em nós mesmos. E, para isso, precisamos de coragem: coragem para enfrentar nossas verdades, para revisitar nossas histórias e para nos transformarmos. O processo pode ser longo, mas a recompensa – um autoconhecimento verdadeiro e duradouro – vale cada passo da jornada.
“Onde está o id, deve advir o ego”. A psicanálise nos dá as ferramentas para fazer esse movimento. Ela nos permite, com tempo e coragem, trazer luz às partes mais sombrias de nossa mente, transformando não apenas o que sentimos, mas quem somos. E essa transformação é, sem dúvida, o caminho para escolhas mais conscientes e uma vida mais plena.
Então, se você sente que há algo mais profundo por trás de suas escolhas, de suas angústias ou dos padrões que se repetem em sua vida, talvez seja hora de dar o primeiro passo nessa jornada de autoconhecimento. A psicanálise pode parecer desafiadora, mas o que está do outro lado desse processo vale cada momento.
E você, já teve a coragem de olhar para dentro? Compartilhe nos comentários suas reflexões, dúvidas ou experiências – porque o primeiro passo para a transformação é começar a falar sobre ela.
originalmente do JLPolitica.com.br