Todo grande avanço da ciência surge de uma audácia da imaginação” – John Dewey
Há alguns quilômetros de ano-luz, havia um seriado americano na TV intitulado “O homem de seis milhões de dólares”, produzido e exibido entre 1974 e 1978 pelo canal American Broadcasting Company ou simplesmente ABC como é conhecido e que hoje pertence ao grupo Walt Disney.
No Brasil, era exibida pela Rede Bandeirantes. Alguém por aí lembra desta série? Eu amava. O ator era o bonitão Lee Majors. Inesquecível para mim, ao menos. Enfim…
Na série, somos apresentados ao coronel e ex-astronauta Steve Austin, que trabalha como agente do Departamento Americano de Inteligência Científica.
Ele sofre um acidente e fica muito machucado, tendo sido totalmente reconstruído em uma cirurgia experimental que custou seis milhões de dólares.
Um de seus braços, as pernas e um de seus olhos, foram substituídos por implantes chamados de “biônicos”. Com isso, ele passou a ter mais força do que o normal, correr em alta velocidade e a ter uma super visão que permitia um zoom incrível.
Os paparazzi, indiscretos por natureza, que amam bisbilhotar e fotografar as celebridades sem o consentimento delas, adorariam ter um olho biônico ou uma máquina fotográfica com aquele potencial inimaginável.
Pois bem! O que há 50 anos era colocada na tela como ficção científica, fruto de uma mente fértil, hoje é realidade: braços e pernas mecânicas, fertilização in vítreo e chips de computadores implantados no cérebro que favorecem o comando e os movimentos inimagináveis em pessoas com paralisias.
Células-tronco e clonagem celular para produzir órgãos em um avanço da engenharia/terapia genética, dignas de um filme de ficção e com benefícios incalculáveis para os pacientes – entre outras conquistas.
Sim, mas e daí? Aonde você quer chegar, menina? Meu tema de hoje é ciência livre versus a bioética. Sempre digo em sala de aula aos meus alunos, futuros médicos, que a ciência, do meu ponto de vista, é aética.
Vocês ainda lembram dos prefixos de negação, ou de ausência, nas aulas de português do segundo grau – para os mais antigos -, ou nível médio – para os leitores mais jovens?
Pois bem, são aqueles que em geral negam o sentido original de uma palavra. Em alguns casos, o prefixo de negação opõe-se ao significado original da palavra, neste caso, funciona como um prefixo de oposição.
Atenção, portanto, querido leitor: eu não disse antiética, mas aética. Aquela que ignora a ética, pois avança sem freios: uma coisa que leva a outra, uma descoberta que abre espaço para pensarmos e pesquisarmos mais e mais.
A ciência é voraz. Não respeita limites. Os cientistas piram, soltando a imaginação. Faz-se necessário um ponto de corte, um ponto de basta que seja estofo.
Para tal, temos mecanismos já consagrados, códigos que delimitam até onde podemos avançar. Aí entra o campo da Bioética, conhecida como a ética da vida.
A Bioética tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida. E vai mais além, identifica os valores e benefícios das pesquisas, e ainda denuncia os riscos das possíveis aplicações dos resultados dos estudos.
Um dos maiores e mais reconhecidos bioeticistas no Brasil é o professor e doutor José Roberto Goldim, que nos diz que “quando você se propõe a coibir um estudo, você cria uma reação em cadeia. Se hoje a ideia era restringir apenas um detalhe daquele determinado estudo, amanhã estaremos censurando uma linha de pesquisa inteira”.
E é por isso que é tão difícil o tal ponto de basta. A prova disso é o projeto Genoma Humano, iniciado na década de 1990, e que foi duramente criticado naquela ocasião.
O tempo mostrou, no entanto, que a liberdade da ciência em escolher o estudo dos genes estava certa. A terapia gênica ainda é um futuro muito promissor. Ciência livre não significa que não deva ser submetida a um constante e rígido controle e avaliação.
Os experimentos realizados em cobaias humanos durante a segunda guerra mundial são a prova disso. Em nome da ciência, foram realizadas muitas atrocidades. Não podemos permitir que isso se repita.
Os Comitês de Ética em Pesquisa em Seres Humanos existem para garantir que estes estudos não aviltem a dignidade dos sujeitos e tragam benefícios reais para a humanidade sem, no entanto, permitir que cientistas e pesquisadores brinquem “de Deus”.
A clonagem humana é um destes limites impostos à ciência. Este equilíbrio é extremamente difícil, haja vista a liberdade de conhecimento ser um bem inexorável.
As vacinas contra a Covid-19 foram desenvolvidas rapidamente, graças a um grande consórcio, investimento financeiro e técnico-científico, que uniu cientistas do mundo inteiro, trazendo para nós, em tempo recorde, os imensos benefícios que nos tiraram de uma pandemia com vida.
Viva, portanto, a ciência! E você, é a favor dos avanços da ciência? Você acredita nela?
originalmente do JLPolitica.com.Br