Tudo dentro da engrenagem vertiginosa cotidiana da pós-modernidade é capaz de mobilizar sentimentos contraditórios e nocivos ao equilíbrio e saúde mental, por ser capaz de adoecer psiquicamente qualquer sujeito e em especial, aquele mal ajustado e mais frágil, frente aos paradoxos, incertezas e inseguranças do cotidiano que exigem dele atitudes proativas e escolhas imediatas.
Hoje a fronteira entre o diagnóstico de saúde e os transtornos mentais é muito tênue, o que significa um crescente aumento daquilo que é considerado psiquicamente anormal.
Os tempos mudaram. Perderam-se as antigas referências sobre as relações pessoais e de trabalho, os conceitos de gênero, de reprodução humana e de família. Palavras antes usuais, como solidariedade e companheirismo, por exemplo, desapareceram do nosso vocabulário e das relações do cotidiano. Os índices de violência são crescentes, quer nas ruas, quer nas áreas privadas, reinando a intolerância e a insegurança.
As manifestações psíquicas do século XXI não são iguais às do tempo do Dr. Sigmund Freud, o fundador da Psicanálise, e destoam daquela moral sexual vitoriana. Hoje, apresentam-se de forma vistosa nas transgressões e violência, no uso das drogas, no consumo exacerbado, no jogo patológico, no uso alienante dos smartphones e do computador, no culto ao corpo, nos transtornos alimentares, através dos fenômenos psicossomáticos ou sob a forma de uma depressão importante, entre outros quadros possíveis.
Em uma revista de altíssimo impacto da Associação Médica Americana (JAMA), através de uma revisão de 23 trabalhos que envolveram 1053 pacientes em análise há mais de um ano e com ao menos duas sessões semanais, manifestou-se a comunidade científica reconhecendo os excelentes resultados da técnica psicanalítica. Os achados do estudo científico revelaram que a Psicanálise é mais eficaz que algumas terapias de curto prazo e foi capaz de aliviar os sintomas dos pacientes da pesquisa, portadores de depressão severa, anorexia nervosa e transtorno da personalidade limítrofe, caracterizado por medo de abandono e surtos de desespero e carência. Isso se caracterizou como uma reviravolta na postura acadêmica, pois, até então, só as revistas especializadas em Psicanálise ou Psicologia falavam sobre a importância e eficácia das terapias psicodinâmicas.
O mundo acadêmico e os médicos estão descobrindo a roda. Antes tarde do que nunca. A pesquisa não nos surpreende, naturalmente, em termos de resultados, mas por ser uma publicação em um espaço reservado a uma categoria que sempre questionou a cientificidade da Psicanálise e que sempre duvidou da técnica, dos seus limites e possibilidades terapêuticas. Finalmente a ciência se rende à Psicanálise e já a recomenda. Todos nós precisamos dela em algum momento das nossas vidas.