“A depressão é como areia movediça: quanto mais você tenta escapar por conta própria, mais fundo você afunda. Use todo o suporte, ferramentas e recursos que vêm de fora”
Jamie Awtry McClintic
O inverno se despede e dá lugar à primavera. Mas nem tudo em setembro diz respeito às flores. Temos um tema importante
e difícil para abordar: o suicídio! E tem muita gente boa, Brasil afora, que faz um trabalho bonito de prevenção.
Setembro Amarelo tem sido há algum tempo uma das mais belas campanhas de prevenção do suicídio feitas no Brasil. Uma ação que envolve muitas entidades, inicialmente realizada pelo Centro de Valorização da Vida – CVV – e depois pela Associação Brasileira de Psiquiatria, que a encampou e se fez dona, ignorando o trabalho anterior, internacional e voluntário, do CVV. Coisas do Brasil!
Mas a responsabilidade da campanha é de todos. Ela não tem dono. Ela é minha e é sua também. Esta campanha também mobiliza outras instituições, inclusive as acadêmicas.
Aqui em Sergipe, dou destaque a Liga PSIC de Saúde Mental, que tive o prazer de fundar com alunos da UNIT e da UFS há uma década.
Esta Liga trouxe as primeiras iniciativas da campanha Setembro Amarelo para a nossa cidade, por inspiração de um jovem psiquiatra aqui chegado naquela época, Antonio Juviniano Aragão, que sugeriu para os meus alunos de Medicina fazermos um trabalho de mobilização social.
Na época a Maíra Sandes Moromizato era nossa aluna e a primeira presidente da Liga PSIC. Hoje, uma psiquiatra renomada e diretora do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, em Salvador.
Aliás, da PSIC resultaram a partir dos nossos estudos e pesquisas, muitos psiquiatras, para meu orgulho e grande satisfação.
Bem, enfim, durante muitos anos fizemos com a Liga PSIC muito barulho na cidade, alertando a população sobre o trabalho de prevenção do suicídio: caminhadas, saraus, jornadas, roda de conversas nas escolas, noite das lanternas, distribuímos cartilhas e panfletos, soltamos balões amarelos.
Foi uma causa muito bem abraçada por todos e muito bem defendida pela Associação Sergipana de Psiquiatria, na época presidida por nosso querido amigo José Hamilton Maciel Silva Filho – e que desde então tem envidado todos os esforços em um trabalho profícuo e de grande repercussão já há alguns anos.
Imagine, caro leitor, que passam pelos serviços de perícia médica um exército de 77 mil pessoas entre ansiosos e deprimidos e que promovem absenteísmo no trabalho, porquanto graves prejuízos à saúde mental das pessoas.
A depressão chega em segundo lugar nas nossas estatísticas. É importante lembrar que ansiedade e depressão, muitas vezes, caminham lado a lado. O Brasil é o campeão mundial em números, com 19 milhões de portadores de transtorno de ansiedade; e o segundo país com mais pessoas sofrendo com transtornos de depressão, em um total de 12 milhões entre 334 milhões de pessoas no mundo inteiro.
A depressão é muitas vezes negligenciada. É uma doença que carece de muita atenção e cuidado e que pode evoluir com ideações suicidas. Depressão, portanto, requer diagnóstico rápido e preciso.
Os transtornos depressivos se caracterizam por uma tristeza profunda que vai além de 15 dias e com uma sensação de esvaziamento como se a vida já não tivesse mais sentido. Todos os projetos e planos para o futuro desapareceram.
Os pacientes relatam uma falta de vontade de estudar, de trabalhar. De viver. Apontam muito cansaço, de cunho físico e mental, e ainda dizem da falta de tesão e de alegria, mesmo que as coisas ao seu redor possam estar aparentemente bem e ajustadas.
Depressão é uma doença que pode alcançar qualquer indivíduo e a qualquer momento: rico, pobre, empregado ou desempregado, solteiro, viúvo, casado, talentosos, criativos, celebridades ou anônimos.
Cristãos, ateus, taxistas, auxiliares de serviços gerais, comerciantes ou comerciários, banqueiros ou bancários, engenheiros, médicos, estudantes, jovens ou idosos. Qualquer um pode adoecer!
As pessoas resistem em admitir que a depressão é uma doença e demoram a buscar ajuda. A sensação que a pessoa deprimida tem é a de ser totalmente incompreendida no que tange aos seus sentimentos e sintomas.
Precisamos entender que aquilo apresentado por essa pessoa não é frescura! Não é preguiça! Não é uma questão de força de vontade! Os sinais devem ser rapidamente percebidos para que os riscos de suicídio não se instalem.
No Brasil uma pessoa se suicida a cada 45 minutos e este número assustador afeta, em especial, os jovens entre 15 e 35 anos, caracterizando-se como uma das três maiores causas de morte nesta faixa etária. O que assusta é que 90% destes suicídios poderiam ter sido prevenidos diante de diagnósticos rápidos e intervenções médicas.
Cuide das pessoas que você ama! Cuide dos seus amigos! Cuide da sua família! Fique atento aos sinais da depressão dos que estão ao seu redor! O preconceito com os transtornos psiquiátricos – psicofobia – pode retardar uma abordagem qualificada com riscos para a vida.
Estas pessoas precisam de alguém que se interesse por elas, que as ouçam, e que as encaminhem rapidamente para um tratamento psiquiátrico e psicoterápico. Faça a sua parte!
originalmente do JLPolitica.com.Br