“O que você permite, persiste” – Tony Gaskins
Em algum momento da vida, nos deparamos com situações em que sentimos que nossos limites foram ultrapassados, mas ficamos em silêncio. Tentamos evitar o confronto, sorrimos por fora, mas por dentro, o mal-estar se acumula.
A frase de Leandro Karnal “melhor uma hora de olhos vermelhos chorando, do que a vida inteira com um sorriso amarelo” toca exatamente nessa ferida. Chorar, expressar nossa dor, pode ser desconfortável no momento, mas é muito mais libertador do que viver uma vida inteira fingindo que está tudo bem, quando na verdade estamos sofrendo.
É aqui que entra uma reflexão profunda: como estabelecer limites? E por que tantas vezes permitimos que outras pessoas ultrapassem esses limites, machucando nossa dignidade?
A primeira agressão, seja física ou emocional, pode nos pegar de surpresa. Somos atingidos pela violência do outro, pela sua patologia, pela sua incapacidade de lidar com os próprios sentimentos de maneira saudável. E essa agressão diz muito mais sobre quem nos machuca do que sobre nós mesmos.
Mas e depois? Quando o ciclo de agressão se repete e nós permitimos que isso continue, já não é apenas o outro que está em erro. Nesse ponto, algo em nós também está em jogo. Nossa incapacidade de dizer “não” à agressão, de estabelecer limites claros, reflete algo profundo em nossa própria subjetividade.
Se a violência continua, o silêncio se torna cúmplice. O sorriso amarelo, que tenta evitar o confronto, vai minando nossa força interna, alimentando o ciclo de dor. “Eu não sou responsável pela violência do outro”, você pode pensar, e isso é verdade.
Mas há uma linha tênue entre não ser responsável pela ação do outro e se tornar passivo diante dela. E quando deixamos que o outro continue a nos machucar, começamos a colaborar, mesmo que inconscientemente, com a nossa própria dor.
Estabelecer limites é mais do que dizer ao outro o que é aceitável ou não. É dizer a si mesmo: “Eu mereço respeito”. O que muitas vezes nos falta não é a coragem para enfrentar o outro, mas para enfrentar nossas próprias inseguranças, medos e o receio de perder a aceitação ou o afeto daquele que nos agride.
Mas como fazer isso sem entrar em uma briga constante? Não se trata de enfrentar a violência com violência. A negociação não precisa ser um campo de batalha, mas uma assertividade tranquila.
Dizer “não”, não é brigar. É simplesmente recusar-se a aceitar a aderência contínua da agressão. E se o ciclo continuar, se você perceber que o outro não respeita seus limites, é hora de fazer uma escolha difícil: sair dessa dinâmica.
Como Karnal mencionou, se a agressão continua e você permite, algo em você também precisa ser curado. Pode ser medo da rejeição, uma baixa autoestima ou a ideia de que você deve suportar o que está acontecendo. Mas não, você não deve. Dignidade não é negociável.
Então, da próxima vez que se encontrar em uma situação de agressão, pergunte-se: o que estou permitindo e por quê? A dor de um “olho vermelho” agora é muito menor do que a de uma vida inteira escondida atrás de sorrisos amarelos e silêncios cúmplices.
Estabelecer limites é um ato de coragem e de amor-próprio. Não se trata de criar conflitos, mas de evitar que sua dignidade seja destruída lentamente. Então, olhe para dentro e pergunte-se: até onde estou disposto a ir para proteger o que há de mais valioso em mim?
originalmente do JLPolitica.com.br