Estava eu tranquila no meu sábado de carnaval, me preparando para curtir os netos na festa de momo, e alguém me liga, com uma intimidade perturbadora, me chamando de mana véia, e fazendo uma proposta indecorosa, sob o argumento de que ele era um ser sedutor, capaz de encantar serpentes: “Escreverás todas as semanas, não sei quantos mil caracteres, e não poderás se furtar de me enviar estes alfarrábios, impreterivelmente, sob pena de ser magistralmente cancelada, à moda do Big Brother. E expulsa do paraíso”.
Parecia um versículo bíblico do livro Gênesis. Meu Deus, que foi que eu fiz? Eu mal tinha acordado. Que diabo de amigo é esse? Quem o merece? Afinal, por que esta sina de escrever sobre o quê eu não sei, em uma frequência infinita, só para dar likes a esse amigo em seu papel de sedutor de serpentes? Seria eu, uma cobra criada e véia vencida? E qual crime, afinal, cometi?
Em verdade, não me lembro de nada muito grave, salvo algumas mentirinhas piedosas vez ou outra, distribuindo elogios graciosos para os amigos carentes, deslize que qualquer diácono perdoaria, me desviando daquele padre com suas mil Ave-Marias como penitência.
Lembrando bem, o meu maior pecadinho recente, que jamais, aliás, será esquecido pela maioria dos meus coleguinhas médicos, alguns imortais, ao menos até o próximo pleito em 2026, foi ter sido uma eleitora, de discreto, porém feroz antagonismo – parece paradoxal -, dirigido ao último presidente que eu desejava mandar para alguma geleira na Sibéria. Errei feio em 2018 o meu alvo, e ele foi parar em 2022 no paraíso dos brasileiros: a Flórida!
Mas eu realmente acredito que sou tão boa gente que este deslize, em momento dramático da nossa história, tipo Escolha de Sofia, nenhum e nem outro, será também relevado pelos meus futuros leitores, pois afinal, já que estou aqui, e já que você, tão desavisado quanto eu, já leu até a essa linha, confesso que pretendo lhe conquistar. Admito que sou um pouco pretensiosa.
Bem, tudo isso são águas passadas. Algum inadvertido leitor, também, talvez consiga se identificar com alguém como eu que, ao ser pego de calças curtas, não sabe dizer um não e fica gaguejando: ah…é… ah…é. Bem assim… e só depois que o tal baiano sedutor desliga a ligação, eu me perguntei: “onde você estava com a cabeça, menina, para dizer um sim?”.
Esse menina, caro leitor, é um contraponto ao velha com o qual fui carinhosamente saudada e adjetivada no primeiro momento da manhã por aquele indesejável interlocutor. Afinal, sinto-me maravilhosa e privilegiada aos 64 anos de idade. Quem aquele careca pensa que é? Até onde sei, ele é um sexagenário metido. Mas afinal, eu disse sim, ou ele interpretou e eu inconsequentemente assenti?
Ou teria sido um inconsciente desejo meu de aceitar o tal convite do tal sedutor? Dúvida cruel! Aquele cara, inclusive, até apelou para as minhas saudosas memórias. Do tipo – veja o jogo baixo dele: “Até hoje, uma década depois, encontro pessoas que me dizem, “puxa, por onde anda Déborah Pimentel, que tinha uns escritos que causavam rebuliços e reflexões?””E reforça a apelação, o danado: “Mulher, você escreveu semanalmente por cinco anos consecutivos no Cinform. Vamos resgatar isso agora!”.
Maldito, jornalista: não é nada justo que tenha apelado para o meu narcisismo. Golpe baixo, portanto! E na conta dos nove fora, vamos ver: aqui estou eu escrevendo qualquer coisa para cumprir um pacto que não assinei – e do qual já sou uma devedora – com uma entidade que não sei definir, se é um semideus, adorado por muitos e temido por alguns, ou apenas um filho da mãe – com todo o respeito a dona Judite Oliveira Lima -, bem intencionado, muito influente e respeitado, preocupado com o nosso pequeno, porém grandioso Sergipe e com um jornalismo imparcial, poeta, bom escriba, eloquente, e extremamente sedutor de fato. Ah, isso é verdade!
Que poder este sujeitinho tem… E o que é pior: não perguntei-lhe se eu, ou só ele, iria lucrar com as minhas crônicas semanais iniciadas a partir de hoje e todas as segundas-feiras. Que mal negociadora eu sou: lascou! Dancei! Agora é mãos à obra e seja o que Deus quiser e o cotidiano inspirar.
A sorte está lançada! O leitor que me aguarde e me aguente! E a culpa é toda desse tal de Jozailto Lima, ou Joza para os íntimos. Pronto, entreguei, afinal não sou baú para guardar segredos por 100 anos!
*Publicado no JLPolitica & Negócio dia 27.02.2023