Muitas vezes as pessoas fingem ser livres e independentes. Às vezes até elas acreditam nisso, entretanto ninguém é livre e ninguém consegue viver sem precisar do outro. Pura balela e jogo de cena.
As coisas não são tão simples assim. Ninguém pode sair por aí fazendo o que “dá na telha”. Tradução: fazer o que quiser e na hora que melhor lhe aprouver, ou seja, fazer o que for agradável e próprio do seu desejo. Será isso possível? Isso não seria patológico e passível de análise?
Esse papo de “vivo por conta e risco próprio e me resolvo sozinho”, não procede. Os riscos muitas vezes são oferecidos por nós mesmos quando não conseguimos nos a ver com os nossos próprios limites. E o limite tem a ver com a falta irredutível e não raro, insuportável, trazida como um traço que marca tudo que é humano, com a nossa pobreza de espírito, com o laço familiar e social.
Todos precisam de um outro. Indispensável a maternagem para garantir a nutrição e sobrevivência física e psíquica; precisamos da função paterna para nos apresentar as regras e a lei que regulam a sobrevivência e convívio social; precisamos amar, pois o amor nos subjetiva; precisamos de um filho para garantir a imortalidade da espécie; precisamos do patrão que nos garante a subsistência; precisamos dos amigos, para garantir a sanidade mental; precisamos da família para o suporte que só as doenças e desventuras do cotidiano sabem com maestria oferecer; precisamos do analista para nos dizer o óbvio que não enxergamos e assim reduzir a arrogância de uma pseudo independência que jactamos como suposta conquista.
Ser livre não é poder pagar as contas, pois fazê-lo é apenas uma responsabilidade desejável que deve ser arcada por todos. Ser livre não é recusar um presente paterno por soberba; ser livre não é se furtar aos encontros da família para evitar encontrar os chatos e os comentários maldosos de outros.
Quem faz o que dá na telha quer vender uma imagem de independência, mas é inseguro e quer ser reconhecido como adulto, mas talvez não passe de um adolescente rebelde ou mesmo uma criança mimada, brincando e fingindo maturidade, mas o que está exercitando mesmo é o seu egoísmo e hedonismo inconsequente, que não raro beira a perversão, principalmente se existem outros que dele depende.
Ser livre é justo o oposto: é exercitar a gratidão e o reconhecimento da importância do outro na nossa vida e suportar com fidalguia a breve, porém necessária convivência com este outro, pois todos precisam de um sentimento de pertencimento, que nos diga de onde viemos para dar sentido ao lugar que queremos chegar e ocupar, todos precisam de história, de ascendência, de laço social, para que nos subjetivemos.
Quem faz o que dá na telha é irresponsável consigo e com os outros. Precisa de muita análise. É um sujeito que ainda não sabe o sentido da vida e o que é ser independente.