João Alves Filho: o homem para além do chapéu de couro

João Alves Filho

A história é o olho do tempo: não mente.
João Alves Filho
(03.07.1941 – 24.11.2020)

O engenheiro João Alves Filho, sempre buscou um sentido para a sua vida. Era um trabalhador incansável, visionário, um gestor futurista, um líder motivado e otimista, empreendedor e muito determinado, ou quem sabe, fosse um teimoso.

Casado com uma mulher forte que lhe deu suporte de uma vida de 54 anos de convivência conjugal, empresarial e política, a advogada e senadora Maria do Carmo Alves, são pais de uma prole de três filhos, Maria Cristina Alves, Ana Maria Alves e João Alves Neto, e quatro netos: Danilo, Alice Maria, Nina Rosa e Maria de Lourdes.

Talvez João Alves se perguntasse, como viver de forma plena a sua existência, extraindo o melhor dela e causando o maior impacto positivo em outras vidas no seu entorno: família, aracajuanos, sergipanos, nordestinos deste Brasil varonil. Claro, que não existe a resposta certa ou uma única resposta para o sentido da vida: são formas múltiplas. Cada um do seu jeito.

Um grande filosofo que inspirou João Alves, foi o prussiano Friedrich Nietzsche (1844-1900) que acreditava que a felicidade estava presente quando o sujeito podia exercer o seu poder para conquistar e realizar aquilo que desejasse, inclusive a livre escolha de trabalhar apenas com o que lhe daria prazer. João Alves, fez a sua escolha e encontrou algo que dizia de si, onde ele se encontrava e dava um sentido à sua vida: a política era o jeito de João ser feliz.

As escolhas e decisões que ele tomou durante a sua vida, foram definitivas nos resultados ora presentes. Para isso, João Alves necessitou dar sempre o melhor de si mesmo em tudo o que se propôs a fazer e fez. Entre a sua empresa, a Habitacional, e a política, escolheu o bem coletivo.

A religião era um grande pilar de sustentação para João Alves.  Era essencialmente um homem cristão e de fé. Não era à toa e sem razão que ele era um devoto de Nossa Senhora da Conceição e tinha em Frei Miguel e em Padre Valtewan, orientadores espirituais.

Entrou na política de mãos dadas com o então governador José Rollemberg Leite, que o indicou para prefeito de Aracaju (1975-1979), durante o governo militar do presidente da república Ernesto Geisel, após arrebatar positivamente a opinião de políticos e empresários da época, com suas ideias visionárias, acerca de planejamento urbano. Neste mandato conquistou o título de João Tocador de Obras, graças a uma gestão inovadora com a abertura de 14 das principais avenidas que até hoje escoam o trânsito da capital; criação do Parque da Cidade Governador José Rollemberg Leite Neto; da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes; do Sistema Integrado de Transporte de Aracaju; a construção do Bairro Coroa do Meio e da Ponte Godofredo Diniz, entre outras realizações.

Na primeira eleição estadual direta, o engenheiro João Alves foi eleito Governador do Estado de Sergipe (1983-1987). Neste mandato fundou o Hospital de Urgências João Alves Filho e criou o Projeto Chapéu de Couro, um programa revolucionário de combate à seca e à pobreza, construindo cinco adutoras, abrindo estradas e levando água e energia para o sertão sergipano. Foi assim que conquistou mais dois criativos apelidos: João das Águas e João Chapéu de Couro.

Sim, será a história que colocará João Alves, um imortal, no panteão dos que mais fomentaram desenvolvimento para a parte mais pobre e sofrida do país, o Nordeste, e particularmente, para o seu Sergipe Del Rey. Tornou-se uma referência nacional como Ministro do Interior (1987-1990) na sua luta ferrenha em defesa do rio São Francisco, e como criador do IBAMA, um dos maiores defensores do meio ambiente no Brasil. Como homem público, conseguiu o respeito das principais lideranças políticas do país.

Era um líder sempre pautado no desenvolvimento urbano e na assistência ao homem do campo; um construtor futurista, visionário, e missionário, capaz de sustentar bandeiras em defesa do Nordeste e que independente do lado político dos parceiros, era capaz de articular iniciativas e envidar todos os esforços para o bem da população.

Em 1990 venceu as eleições para o Governo do Estado (1991-1995) e deu seguimento à sua política de combate à miséria de seu povo, lutando contra a seca. Passou a ser reconhecido como João do Povo. Na ocasião construiu a Orla da Atalaia, e criou o Platô de Neópolis, área para exploração agrícola, totalmente irrigada.

Este sujeito multifacetado – o homem, o escritor e o político, tornou-se membro da Academia Sergipana de Letras em 1993. O João Escritor tinha um estilo simples e direto, porém apropriava-se com maestria, totalmente imbuído, dos temas aos quais dedicou sua vida e sua obra. São 15, os livros que o consagraram: Irmãos de raça (sem data); Nordeste, Região Credora (1985); No Outro Lado do Mundo: uma viagem para aprender (1988); Amazonia & Nordeste – Estratégias e Desenvolvimento (1989); Pronunciamentos, Artigos, Entrevistas (1990); Conferências (1990); Humanismo e Política (1993); O Caminhoneiro do Brasil (1994); Pontos de Vista (1994); Nordeste: Estratégias para o Sucesso. Propostas para o desenvolvimento do Nordeste brasileiro, baseado em experiencias nacionais e internacionais de sucesso (1997); Transposição das Águas do São Francisco: Agressão à Natureza x Solução Ecológica (2000); Matriz energética brasileira – Da crise à grande esperança (2003); A insensatez do projeto de transposição (2006); Toda a Verdade sobre a transposição do Rio São Francisco (2008); Relato de uma perseguição presidencial e suas consequências (2008). A sua última produção foi um capítulo de livro intitulado Transposição de águas do rio São Francisco: um atentado aos interesses nacionais. Este capítulo está inserido no livro Transposição do São Francisco – Uma Análise dos aspectos positivos e negativos do projeto que pretende transformar a Região Nordeste, de autoria de Quintieri, publicado em 2010.

Em 2002, João Alves Filho disputou novas eleições para o Governo do Estado e foi eleito governador do Estado de Sergipe pela terceira vez (2003-2007). Fé, esperança, sonhos e projetos, não faltavam ao João Coragem. E esses são pilares capazes de garantir saúde mental e, indubitavelmente, podem trazer algum nível de redução de sofrimento, diante das muitas tempestades e intempéries que vieram até ele, mas que passaram, graças à forma tranquila de conduzir os problemas e tocar as suas obras.

Construiu a maior ponte urbana do Nordeste, sobre o Rio Sergipe, a Ponte Construtor João Alves, ligando os municípios Aracaju-Barra dos Coqueiros favorecendo o escoamento de produtos pelo Terminal Marítimo Ignácio Barbosa ou ainda, o Porto de Barra dos Coqueiros, como é conhecido, e que foi construído na sua gestão anterior, como a peça-chave de todo o projeto de desenvolvimento desenhado por ele e que franqueou mais desenvolvimento na região.

Em 2012, João Alves Filho venceu as eleições para a Prefeitura de Aracaju. Naquele último mandato (2013-2017), ele realizou inúmeras obras, a exemplo da Ponte Gilberto Villa Nova, ligando o Inácio Barbosa à Farolândia; o importante Complexo Viário Governador Marcelo Déda e o Viaduto Hugo Costa. Fechou, com destaque, a construção do calçadão da Praia Formosa, no Bairro Treze de Julho, um ciclo de ouro de três décadas.

Entre os seus pares, independente de ideologias político-partidárias, aliás, mesmo entre os seus adversários políticos, é reconhecido e considerado, até então, o melhor e o maior realizador de obras de grande vulto na história dos últimos cem anos de Sergipe, e que trouxe, indubitavelmente, mudanças, e favoreceu a qualidade de vida dos sergipanos.

João Alves está na categoria dos realizadores, dos tocadores de obras, dos que fomentaram desenvolvimento para a sua região, seu legado é incomensurável. Dificilmente outro político sergipano alcançará o mesmo prestígio e reconhecimento a curto e médio prazo.

Parafraseando Guimaraes Rosa, quando chegou na Academia Brasileira de Letras, João Alves Filho não morreu, apenas ficou encantado.


Prof. Dra. Déborah Pimentel
Biógrafa de João Alves Filho.
Membro da Academia Sergipana de Medicina, da Academia Sergipana de Educação e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.

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