“A arte de curar, uma vez foi arte, agora é negócio e brevemente será apenas tecnologia”
Autor desconhecido
Caros leitores, iniciemos nossa jornada de reflexão com uma citação que, embora seu autor seja desconhecido, ressoa com profundidade nos corredores da Medicina moderna. Esta frase encarna o dilema central da nossa discussão: a transformação da Medicina de uma arte sagrada em um comércio.
Relembro uma palestra marcante que recentemente assisti na “Iª Jornada Sergipana de Humanização em Saúde”, apresentada pelo médico humanista Antonio Samarone, intitulada “Medicina: sacerdócio ou negócio?”. As palavras de Samarone tocaram profundamente em meu âmago, desencadeando uma série de reflexões que compartilho agora com vocês.
A Medicina, desde os tempos de Hipócrates, foi vista como um sacerdócio, uma vocação quase divina, dedicada à nobre missão de aliviar o sofrimento humano. Os médicos eram vistos como curadores e as suas habilidades e conhecimentos a serviço do bem-estar da humanidade.
Mas, ao longo do tempo, este idealismo enfrentou o pragmatismo do mundo moderno. A Medicina tornou-se uma indústria, e o paciente, antes visto como um ser humano em busca de alívio e cura, passou a ser tratado como cliente.
Este cenário mercantilista na Medicina suscita uma questão crucial: até que ponto este comércio afeta a essência da Medicina? A resposta não é simples, pois embora a modernização e a comercialização tenham trazido avanços tecnológicos significativos, é imperativo questionar: a quem realmente servem estes avanços?
A Medicina comercializada frequentemente coloca o lucro acima do paciente. Este modelo de negócio estimula práticas como a realização de procedimentos desnecessários e a prescrição excessiva de medicamentos, muitas vezes negligenciando a necessidade fundamental de uma abordagem mais humana e personalizada no tratamento.
E aqui, caros leitores, resgatemos a nossa epígrafe inicial. A transformação da Medicina em um negócio não apenas desvirtua sua missão primordial, mas também pode levar a um futuro, onde a tecnologia supera o toque humano. A Medicina, em sua essência, é um ato de compaixão e empatia.
Quando a reduzimos a uma transação comercial, perdemos a oportunidade de conectar-nos verdadeiramente com o paciente, de compreender suas dores não apenas físicas, mas também emocionais e espirituais. É fundamental, portanto, que reavaliemos o caminho que a Medicina está trilhando.
Como médicos, devemos nos perguntar: estamos tratando nossos pacientes como seres humanos integrais ou como meros números em um balanço financeiro? E você, leitor, como vê esse cenário? Já sentiu na pele a frieza de um tratamento puramente técnico, desprovido de humanidade?
Encerro este texto com o desejo de provocar um desconforto nos operadores da saúde, em especial os médicos, sobre as suas práticas, em sua jornada evolutiva, enfrentando um dilema moral e ético.
Na Medicina, entre ser um sacerdócio dedicado à cura e ao bem-estar do ser humano e ser um negócio orientado para o lucro, reside um espaço que deve ser preenchido com empatia, ética e respeito à dignidade humana. Que esta reflexão sirva como um chamado para a reconexão da Medicina com sua essência mais pura e nobre.
Agora, convido você, leitor, a se juntar a esta discussão. Compartilhe suas experiências e visões. Juntos, sim, eu e você, podemos moldar um futuro: eu orientando os novos médicos e os alertando sobre a importância das boas práticas hipocráticas, onde elegância e ética convergem, e você cobrando mais atenção e respeito do profissional de saúde que lhe atende, de sorte que a Medicina retorne às suas raízes humanísticas, equilibrando o avanço tecnológico com o cuidado genuíno ao ser humano.
originalmente do JLPolitica.com.Br