O psiquismo precisa habitar o próprio corpo, um bem a ser protegido. Piera Aulagnier diz que quanto mais ameaçado é o corpo com risco de morte ou como fonte de sofrimento, mais este corpo é visto como vilão, ou seja, o Eu precisará de um suporte da cultura para inocentar este corpo da responsabilidade pelo sofrimento e morte.
O que a mídia impede é a alteridade com a divulgação do sujeito ideal, ou seja, a cultura remete o individuo ao eu ideal, lugar de narcisismo e aprisiona o sujeito em sua própria imagem.
À medida que o sujeito ocupa o centro de sua própria existência, isto o leva a se confrontar com o vazio. Cria-se a chance de este sujeito perceber-se, aceitar-se e apoderar-se do próprio corpo.
Se houvesse uma possibilidade de conciliação, se, de alguma forma, estas pessoas pudessem se apropriar dos seus próprios corpos e simbolizá-los de alguma maneira (ninguém é perfeito), se não ficassem fazendo evitação da frustração e elaborassem o seu desamparo e carência estrutural, poderiam estar mais próximas da tal felicidade, mesmo que parcial e momentaneamente, como é o destino dos humanos.