O tempo, a clínica e a arte de curar: reflexões sobre as consultas médicas

“Curar ocasionalmente, aliviar frequentemente, consolar sempre” Hipócrates

Caros leitores, nossa reflexão no espaço de hoje se debruça sobre um aspecto crítico da prática médica atual: a tendência de encurtar as consultas médicas, uma prática que desafia a essência da medicina e compromete a relação entre médico e paciente.

Hipócrates, nosso ancestral na arte da cura, nos ensinou que nosso papel vai além da cura física. Ele envolve alívio e consolo. Mas, como podemos oferecer tais cuidados em consultas que são breves e, por vezes, superficiais?

Vivemos em uma era onde o tempo é um recurso escasso e altamente valorizado. Na medicina, essa realidade se manifesta na forma de consultas rápidas, muitas vezes motivadas por pressões financeiras e administrativas. Mas o que se perde nesse processo?

A consulta médica é o momento sagrado onde o médico e o paciente se encontram. É um espaço de escuta, observação e empatia. Quando essa interação é abreviada, perde-se uma oportunidade crucial de compreender o paciente não apenas como um portador de sintomas, mas como um ser humano completo, com emoções, medos e esperanças.

A prática de encurtar consultas leva a uma dependência excessiva de exames complementares. Embora esses exames sejam ferramentas valiosas, eles não substituem o diagnóstico clínico baseado na interação direta com o paciente.

O médico, usando seus sentidos e experiência, pode perceber nuances que nenhum exame pode revelar. É o olhar atento, a escuta cuidadosa e a empatia que muitas vezes levam ao coração do problema.

Além disso, a relação médico-paciente é fundamental para a jornada de cura. Uma consulta apressada pode deixar o paciente se sentindo negligenciado e incompreendido, afetando negativamente sua confiança no tratamento e, consequentemente, nos resultados terapêuticos. Como médicos, devemos cultivar essa relação, pois ela é tão terapêutica quanto os medicamentos que prescrevemos.

Refletindo sobre a prática atual, devemos nos perguntar: estamos honrando o juramento hipocrático? Estamos realmente ouvindo nossos pacientes? A pressa em nossas consultas está nos impedindo de ser os médicos que prometemos ser?
Em um mundo ideal, a medicina deveria equilibrar eficiência com empatia, tecnologia com humanidade. É uma balança delicada, mas essencial. Cada paciente traz uma história única e merece ser ouvido. A cura, muitas vezes, começa com a compreensão dessa história.

Portanto, conclamo meus colegas médicos a refletirem sobre a prática de encurtar as consultas. Vamos nos esforçar para retornar às raízes da medicina, onde cada paciente é visto e ouvido, onde o tempo é dedicado não apenas ao diagnóstico, mas também à empatia e ao conforto. Que possamos encontrar um meio de equilibrar as demandas do mundo moderno com os valores atemporais da nossa profissão.

Que a sabedoria de Hipócrates ressoe em nossos corações e mentes: “Curar ocasionalmente, aliviar frequentemente, consolar sempre”. Que essas palavras sejam um lembrete constante da nossa missão como médicos e como seres humanos.

originalmente do JLPolitica.com.Br

 

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