O invasor silencioso: quando o WhatsApp transforma a Medicina em uma prisão digital

“Temos de melhorar o espírito humano, não apenas as habilidadesÉ preciso sermos um exemplo vivo do que estamos ensinando.

Albert Einstein

Vivemos em uma era onde a tecnologia, que deveria facilitar nossas vidas, acabou por criar novas formas de aprisionamento. O WhatsApp, por exemplo, transformou-se em um símbolo dessa nova realidade. Se você, caro leitor, trabalha na área da saúde ou da educação, já deve ter sentido o peso desse invasor digital, que, silenciosamente, atravessa as barreiras do profissional e do pessoal, impondo um regime de disponibilidade constante.

Lembro-me de uma época em que organizar a agenda do dia exigia certo planejamento, onde um intermediário – a secretária ou o recepcionista – fazia a triagem das solicitações. Essa dinâmica permitia ao profissional um espaço para respirar, uma separação entre o trabalho e a vida pessoal. No entanto, com o avanço da tecnologia e a popularização de ferramentas como o WhatsApp, esse filtro foi eliminado. A demanda por respostas imediatas a qualquer hora do dia ou da noite tornou-se uma norma, uma expectativa.

Durante a pandemia, muitos de nós fomos forçados a adotar a comunicação online, uma solução que parecia ideal e perfeita naquele momento. No entanto, rapidamente descobrimos que o que inicialmente era uma benção tornou-se um fardo. O WhatsApp, que deveria ser um facilitador, virou uma algema digital. Mensagens, dúvidas, pedidos – tudo isso começou a fluir ininterruptamente para os nossos dispositivos, independentemente do horário, sem considerar o tempo que precisamos para nós mesmos.

A tecnologia, sem dúvida, tem seu valor. Ela nos conecta, nos aproxima das pessoas que precisam de nós, mas, como Einstein sabiamente alertou, devemos melhorar o espírito humano e não apenas as nossas habilidades. Precisamos ser o exemplo do que ensinamos. Em um mundo onde a resposta instantânea e a disponibilidade contínua se tornaram padrões, como podemos esperar que outros respeitem nosso tempo se nós mesmos não o fazemos?

A citação de Einstein é um chamado à reflexão: não basta desenvolvermos habilidades técnicas e adotarmos novas tecnologias se não formos capazes de preservar nossa humanidade e nossos limites. O WhatsApp, em sua onipresença, nos desafia a encontrar um equilíbrio entre a conveniência da tecnologia e a necessidade de mantermos nossa sanidade e bem-estar.

Por isso, é essencial que recuperemos a capacidade de dizer “não”, de estabelecer limites claros. É preciso que voltemos a nos perguntar, diante de cada notificação, se aquilo realmente precisa ser resolvido agora, se é tão urgente a ponto de invadir nosso momento de descanso, de desconexão. A resposta, muitas vezes, será “não”. E ao ignorar uma mensagem fora de hora, talvez descubramos que essa é a verdadeira liberdade que a tecnologia nos roubou.

Assim como Einstein nos lembrou, nosso papel é melhorar o espírito humano. Precisamos ser exemplos vivos daquilo que ensinamos, seja para nossos pacientes, alunos ou colegas. E, para isso, talvez o maior exemplo que possamos dar seja o de proteger nosso tempo, nossa saúde mental e nossa humanidade, mesmo em meio à era digital.

originalmente do JLPolitica.com.br

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