“O cérebro é capaz de plasticidade em qualquer idade. A capacidade para a mudança se torna mais difícil à medida que envelhecemos, mas não é impossível”
Eric Kandel
Eric Kandel é um neurocientista renomado e ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia em Medicina no ano 2000 por seu trabalho sobre a base fisiológica da memória no cérebro.
Kandel ficou conhecido por suas contribuições fundamentais à compreensão de como as sinapses no cérebro se fortalecem para armazenar memórias – um processo conhecido como plasticidade sináptica.
Com base nessa perspectiva científica, vamos abordar a importância de atividades intelectualmente estimulantes para os idosos, focando na neurociência e na saúde cognitiva.
A jornada da vida, em sua essência, é uma tapeçaria tecida com as linhas da aprendizagem e do crescimento contínuos. Malcolm X, com sua visão penetrante, nos lembra da importância de nos prepararmos hoje para o amanhã que almejamos.
Este conselho, embora universal, ressoa com especial profundidade quando aplicado à fase dourada da vida: a terceira idade.
Antes que algum desavisado me pergunte sobre este tal Malcolm X, eu já me adianto. Malcolm X, nascido como Malcolm Little em 19 de maio de 1925, foi uma figura proeminente do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos durante a década de 1960.
Conhecido por sua oratória fervorosa e liderança carismática, Malcolm X se destacou como um defensor dos direitos dos afro-americanos, promovendo a autoestima, a autodefesa e os direitos humanos dos negros.
Mas depois deste parêntese, voltemos ao nosso tema que muito me preocupa, pois cheguei lá: a tal da terceira idade. A velhice, frequentemente vista sob um prisma de declínio e desaceleração, esconde em seu seio uma oportunidade dourada para o renascimento intelectual e emocional.
A chave para desbloquear esse potencial reside na contínua nutrição do intelecto e do espírito, através de atividades que desafiam e expandem os horizontes mentais.
O cérebro humano, essa maravilha da natureza, opera através de uma complexa rede de conexões e habilidades distribuídas entre seus dois hemisférios.
O lado esquerdo, frequentemente associado à lógica, à linguagem e ao pensamento analítico, encontra um campo fértil para o exercício e a manutenção de sua vitalidade nas atividades mencionadas.
Um estudo pioneiro da Universidade de Edimburgo, publicado na prestigiada revista “Neurology”, revelou que indivíduos que se engajam em atividades intelectualmente estimulantes, como aprender uma nova língua ou tocar um instrumento musical, demonstram uma menor taxa de declínio cognitivo em comparação com aqueles que não praticam tais atividades, resultando em um aumento da massa cinzenta em regiões do cérebro associadas à memória, à fala e ao processamento de informação.
Ademais, a prática regular de jogos que desafiam o raciocínio, como o xadrez e palavras cruzadas, tem sido associada, em estudos conduzidos por instituições como a Universidade de Stanford, a uma melhoria na função cognitiva, especialmente em áreas relacionadas à memória, atenção e resolução de problemas.
Estas atividades promovem não apenas a agilidade mental, mas também oferecem uma valiosa oportunidade para o engajamento social, outro componente crucial para a manutenção da saúde mental na terceira idade.
A neurociência moderna nos proporciona uma compreensão cada vez maior sobre a capacidade do cérebro de se adaptar e mudar, mesmo em idades avançadas. A declaração de Eric Kandel, nos lembra de uma verdade fundamental: nossos cérebros retêm a capacidade de plasticidade, a habilidade de se reorganizar em resposta a novas experiências de aprendizado, durante toda a nossa vida.
Portanto, ao nos debruçarmos sobre as palavras de Malcolm X, podemos considerá-las como uma metáfora inspiradora para a aprendizagem e o crescimento contínuos e através delas compreendemos que a preparação para o futuro, especialmente na terceira idade, transcende a mera antecipação de eventos ou circunstâncias.
Ao integrarmos em nossa rotina atividades que estimulam o pensamento crítico, a criatividade e a socialização não estamos apenas preservando nossas capacidades cognitivas. Estamos, de fato, expandindo as fronteiras do que é possível, independentemente da idade.
Em suma, o convite está feito: que possamos, independentemente da estação da vida em que nos encontramos, nos preparar hoje para o amanhã que desejamos. Trata-se de uma oportunidade contínua para descobrir, para se maravilhar e para se reinventar: explorar, aprender, crescer.
E nesse processo, podemos descobrir que o envelhecimento não é um fechamento, mas sim um novo capítulo repleto de possibilidades, um testemunho da capacidade inesgotável do ser humano para a renovação e o despertar, em qualquer idade.
originalmente do JLPolitica.com.br