Relações abertas e trisais: um olhar crítico e humanista

A vida  pode ser compreendida olhando-se para trás; mas  pode ser vivida olhando-se para frente.

Søren Kierkegaard

Assisti a um vídeo de Regina Navarro, uma sexóloga nacionalmente conhecida por suas participações em programas de televisão e livros publicados em defesa dos trisais. Eu nem sabia o que era trisal. Quão desatualizada, eu sou. Uma amiga ginecologista, Ildete Caldas, que me explicou. E você, sabe o que isso significa?

É isso mesmo, um arranjo, casamento ou namoro formado por três pessoas envolvidas romanticamente. Seria romanticamente, ou apenas sexualmente?

Nos últimos anos, as configurações das relações amorosas têm se diversificado de forma significativa. O modelo tradicional de relacionamento monogâmico aqui no Ocidente, que por muito tempo foi visto como a única forma válida de união amorosa, agora divide espaço com novas formas de vivência afetiva, como as relações abertas e os trisais.

Dar conta de um único parceiro já é muito complicado, imagine ter dois.

Neste texto, vamos explorar essas novas dinâmicas, questionando se elas realmente podem oferecer a plenitude que buscamos nas relações humanas e quais são suas possíveis consequências.

Relações abertas são aquelas em que os parceiros concordam em se relacionar com outras pessoas de maneira consensual e transparente, sem comprometer o vínculo primário. Essa configuração exige um grau elevado de comunicação, honestidade, aceitação das diferenças e confiança entre os envolvidos. No entanto, a prática desse modelo não é isenta de desafios. A gestão do ciúme, a necessidade de um equilíbrio emocional e a capacidade de lidar com inseguranças são aspectos críticos que necessitam ser trabalhados continuamente.

Kierkegaard nos lembra que “a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente”. Esta reflexão nos leva a considerar as consequências a longo prazo das escolhas que fazemos no presente.

Em uma relação aberta, as consequências emocionais podem ser profundas, tanto positivas quanto negativas. Por um lado, pode-se experimentar uma maior liberdade e a possibilidade de vivenciar diferentes formas de amor, conexão e intimidade. Por outro, pode haver o risco de desentendimentos, mágoas e a dificuldade em manter um vínculo profundo e exclusivo com um parceiro.

Um trisal, ou seja, um relacionamento amoroso entre três pessoas, desafia ainda mais as convenções tradicionais. Teoricamente, um trisal pode funcionar desde que haja um alinhamento de valores e expectativas entre todos os envolvidos. No entanto, a prática pode revelar desafios significativos. A gestão das necessidades emocionais de três indivíduos, a dinâmica de poder e a manutenção da harmonia são fatores que exigem uma dedicação e um esforço constantes.

É crucial entender que o amor, em sua essência, muitas vezes demanda exclusividade e dedicação para se aprofundar e florescer. A introdução de múltiplos parceiros pode diluir essa intensidade, levando a questionamentos sobre a verdadeira profundidade e autenticidade das conexões formadas. Além disso, a ideia de que se pode viver sem consequências em um trisal ou em qualquer relação aberta é, em muitos aspectos, utópica. Toda escolha carrega consigo um peso e uma responsabilidade.

Ao considerar a possibilidade de entrar em uma relação aberta ou um trisal, é vital ponderar sobre a motivação por trás dessa decisão. Muitas vezes, um dos parceiros pode estar mais inclinado hedonisticamente a explorar essas novas dinâmicas, enquanto o outro pode aceitar essa proposta por amor ou medo de perder o parceiro. Quando isso ocorre, o risco de mágoas e ressentimentos aumenta consideravelmente. Viver a fantasia do outro, sem uma real convicção pessoal, pode levar a profundas feridas emocionais.

As relações humanas são complexas e envolvem sentimentos e expectativas que nem sempre são fáceis de conciliar. Ao embarcar na fantasia do outro, sem um alinhamento verdadeiro de desejos e necessidades, há uma grande possibilidade de que a relação se torne insustentável. O respeito mútuo e a honestidade são fundamentais para que qualquer relação – seja monogâmica, aberta ou poliamorosa – possa florescer de maneira saudável.

Embora as relações abertas e os trisais possam oferecer novas possibilidades de amor, é fundamental adotar uma perspectiva crítica e realista. Essas formas de relacionamento exigem um grau elevado de autoconhecimento, maturidade emocional e comunicação. Não se pode negligenciar as possíveis consequências emocionais e psicológicas envolvidas.

Acredito firmemente no amor, no respeito e na monogamia como bases sólidas para relações duradouras e saudáveis. A monogamia, longe de ser uma imposição social, é uma escolha consciente que promove um ambiente de confiança e crescimento mútuo. Em um relacionamento monogâmico (hetero ou homoafetivo), não importa, pautado pelo respeito mútuo e pela fidelidade, constrói-se uma base sólida que permite enfrentar as adversidades com mais segurança e confiança.

Convido você, leitor, a refletir sobre suas próprias expectativas e necessidades emocionais. Que tipo de relacionamento você deseja construir? Como você lida com o ciúme e a insegurança? Está preparado para as consequências emocionais que uma relação aberta ou um trisal pode trazer?

Lembre-se, como Kierkegaard nos ensinou, que a vida só pode ser vivida olhando-se para frente, mas é a compreensão do passado que nos dá sabedoria para tomar decisões no presente. Em última análise, a busca pelo amor e pela conexão é uma jornada profundamente pessoal. Seja na monogamia, em relações abertas ou em trisais, o mais importante é agir com integridade, respeito e honestidade, tanto consigo mesmo quanto com os outros.

O amor verdadeiro, em qualquer forma que se manifeste, exige um compromisso contínuo com a verdade e a autenticidade. Creio, que evita sofrimentos. E, acima de tudo, com o respeito mútuo e a capacidade de se dedicar plenamente ao outro.

Quero despertá-los para o debate acerca do verdadeiro amor, onde, na minha pobre, desatualizada e careta opinião, entre o casal, não cabe um terceiro, salvo o nascimento ou a adoção de uma criança, fruto deste amor. Quero saber sobre a opinião do leitor. Até porque não sou a dona da verdade. Aliás, falei em verdadeiro amor e a verdade sequer existe. Cada um constrói a sua verdade e a sua história. Você escolhe o que para você, uma relação aberta, um trisal ou relação monogâmica e exclusiva?

originalmente do JLPolitica.com.br

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