“A vida é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”
Oscar Wilde
Caro leitor, fiquei pensando como explorar o tema Setembro Amarelo com suavidade e poesia. Tema difícil e necessário. Setembro é o mês em que o alerta para a prevenção do suicídio ganha destaque, mas a relevância desse tema transcende qualquer data específica.
O suicídio é uma realidade que, embora muitas vezes envolta em silêncio, afeta milhares de pessoas ao redor do mundo todos os dias. Segundo o relatório de 2021 do Ministério da Saúde, o Brasil registra, em média, cerca de 13 mil suicídios anuais.
Esses dados são consistentes com os números apresentados pela Organização Mundial da Saúde – OMS – e outras entidades que monitoram questões de saúde pública. É um número, entretanto, que poderia ser drasticamente reduzido com ações preventivas e uma abordagem mais empática e informada da sociedade.
Diga para mim: até onde, efetivamente, temos trabalhado de forma preventiva no sentido de salvarmos 13 mil vidas? O que me cabe? O que lhe cabe? Essa questão não conhece fronteiras de idade, classe social ou gênero.
Adolescentes, jovens adultos e idosos estão entre os grupos mais vulneráveis, e a pandemia de Covid-19 só aumentou o sofrimento emocional de muitos, tornando ainda mais urgente a necessidade de falar abertamente sobre saúde mental. O estigma que cerca o suicídio e a saúde mental impedem muitas pessoas de buscar ajuda, levando a tragédias que poderiam ser evitadas.
É preciso que algo mude para que tudo continue como está. Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Esta citação é do livro O Leopardo – Il Gattopardo. A frase original é “Se queremos que tudo permaneça como está, é preciso que tudo mude”, e é dita por Tancredi, um dos personagens principais, refletindo sobre a necessidade de adaptação para manter o status quo.
Pois bem, a conscientização é o primeiro passo fundamental. Muitos desconhecem os sinais de alerta do suicídio ou, pior ainda, acreditam em mitos perigosos, como o de que “quem fala não faz”. Frases como “Eu quero morrer” ou “A vida não faz sentido” são gritos de socorro que nunca devem ser ignorados. Cada palavra dita por alguém em sofrimento pode ser uma oportunidade para oferecer apoio e salvar uma vida.
Falar sobre suicídio de maneira responsável e empática não é apenas necessário. É vital. Precisamos criar espaços onde as pessoas possam expressar seus sentimentos sem medo de serem julgadas. O silêncio, nesses casos, pode ser mortal.
A vergonha e o medo do julgamento ainda afastam muitos que necessitam de ajuda, reforçando a importância de construirmos uma sociedade que valorize a vida e que esteja preparada para acolher o outro em momentos de crise.
Ninguém é uma ilha, completo em si mesmo; cada um é uma parte do continente, uma parte do todo. John Donne. Esta citação vem do sermão de John Donne, um poeta e clérigo inglês do século XVII, quando magistralmente escreveu: “No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main”. Creio que esta frase pode ser usada neste contexto, em que entendemos que a prevenção do suicídio é um esforço coletivo.
Amigos, familiares, colegas de trabalho e até desconhecidos têm o poder de fazer a diferença. Ouvir com atenção, sem julgamentos, e incentivar a busca por ajuda profissional, são atitudes que podem salvar vidas. Não podemos esquecer que o sofrimento psicológico é muitas vezes invisível, e é por isso que devemos estar sempre atentos ao que acontece ao nosso redor.
O Setembro Amarelo é mais do que uma campanha. É um chamado à ação. Falar sobre suicídio não deve ser um tabu, mas uma forma de promover a vida e a saúde mental. Precisamos lembrar que essa causa não se limita a um mês do ano. Cada dia é uma nova oportunidade para estender a mão a quem precisa e construir uma sociedade mais acolhedora e solidária.
A esperança é a coisa com penas que pousa na alma e canta a melodia sem palavras e nunca para. Emily Dickinson. Essa citação acima é do poema “Hope is the thing with feathers”. O poema compara a esperança a um pássaro que nunca cessa seu canto, mesmo nas adversidades.
A vida é o nosso bem mais precioso, e protegê-la deve ser uma prioridade para todos. O Setembro Amarelo nos lembra disso, mas cabe a nós garantir que essa lembrança se estenda ao longo de todo o ano. Que cada palavra dita, cada gesto de empatia e cada ato de solidariedade ajudem a construir um mundo onde a vida sempre prevaleça.
Espero que eu tenha deixado um pouco destes pensadores dentro de cada um dos leitores, não simplesmente como poesia e utopia, mas como reflexões, ou oxalá, como uma poção mágica mantenedora de esperanças.
originalmente do JLPolitica.com.br