O supervisor deve-se fazer entender pelo terapeuta que o procura para ajuda, quanto a importância de que, tal qual a psicanálise, a supervisão requer desejo e disciplina com o objetivo de salvaguardar o processo de quaisquer interferências por ambas as partes e marcar com o enquadre a diferença dessa nova experiência que deve ser distante da sua terapia pessoal, uma vez que o jovem analista tem, às vezes, uma necessidade de colocar o seu supervisor no lugar de analista, escamoteando um outro tipo de demanda.
Algumas condições de enquadre dizem respeito aos horários, que devem ser preestabelecidos, e a regularidade das sessões. Esta forma de trabalhar do supervisor, dentro de um protocolo, favorece o entendimento que o jovem analista terá, e a sua futura interpretação, de faltas ou atrasos que o seu analisando, porventura, promova. Os honorários devem ser tratados da mesma forma e o supervisor deverá cobrar o mesmo que cobra pelas suas horas de análise.
O supervisor deve tentar conhecer a forma e a dinâmica do trabalho exercido pelo seu supervisionando que podem trazer implicações em um processo psicanalítico por ele “conduzido”. Daí a importância de se ter informações, tais como: o ambiente físico que o supervisionando trabalha, se numa clínica com outros especialistas, em um consultório, se na sua própria casa, com ou sem recepcionista, quem recebe o cliente, disposição dos móveis, e ainda, como seu analisando interage com aquele espaço. O processo de supervisão se inicia quando o terapeuta está preparando, logo após as sessões, suas anotações. A experiência analítica é impossível de ser compartilhada ou transmitida a um terceiro, o que gera um impasse: as anotações que tentam capturar em um registro as sessões clínicas serão sempre infiéis. O importante, no entanto, não são as anotações, mas o que de cada sessão foi percebido como dificuldades. Logo aí, na tentativa de levar algo para seu supervisor, o jovem analista terá a chance de repensar sobre o que na sessão ocorreu e vai dar conta de aspectos que não conseguiu perceber no transcurso dela, mas que agora podem ser elaborados. Vai ter oportunidade de fazer uma análise de suas intervenções e as razões conscientes e inconscientes que as motivaram. Na hora do encontro com o supervisor, grande parte do processo de supervisão já transcorreu, sem que o supervisionando tenha percebido.
Poderá ser enriquecedor para supervisionando e supervisor, se este último puder falar do seu próprio trajeto, afinal a supervisão é uma via de mão dupla. Supervisor e supervisionando acabam sendo, juntos, observadores de uma experiência clínica que enriquece a ambos e promove um reconhecimento mútuo.
Um supervisor ao dar sua versão de uma interpretação, revelando seu jeito de elaborar o material clínico, pretende, em regra, apenas provocar as associações do seu supervisionando acerca do caso, levando o jovem analista a considerar seu próprio autoconhecimento, porque afinal, a finalidade do supervisor não é oferecer modelos de interpretação, mas oferecer uma chance ao jovem analista de exercitar e desenvolver sua percepção e elaboração do material com que ele lida na clínica.
Por outro lado, se o supervisor expõe sua forma de trabalho com o intuito de revelar alguma verdade com postulações dogmáticas, provocará imensa angústia no seu supervisionando, bloqueando as possibilidades de sustentação do trabalho clínico do seu jovem colega.
Pimentel, D. Os impasses da supervisão, in Formação de Psicanalistas. Ed: CEFET-SE, 2004, p.83-90.