“A felicidade é como uma borboleta; quanto mais a perseguir, mais irá fugir – mas se der atenção a outras coisas, ela irá acabar por pousar gentilmente no seu ombro”, Thoreau
Ainda pensando sobre a felicidade, fiquei matutando e decidi provocar, de novo, os leitores. Você é feliz? O que é ser feliz? Será que é possível encontrar uma forma de ser feliz? Onde buscar a felicidade? O que poderia acalmar essa busca desenfreada, se sequer sabemos o que efetivamente procuramos?
Será que a religião teria uma resposta para nos oferecer? Talvez ser feliz seja trilhar a vida com um bom comportamento e garantir o Reino dos Céus. Sendo assim, a felicidade seria alcançada enquanto estamos na terra ou só quando chegarmos no Reino de Deus? Seria, assim, a religião o instrumento que nos daria esta sensação de completude e bem-estar que buscamos?
Será que a religião poderia proteger as pessoas da dor e do sofrimento e, portanto, ser uma saída possível para se atingir a felicidade? Ou ainda o exercício do perdão poderia lhe trazer um lampejo de felicidades?
Talvez, querido leitor, você reconheça um conto bem conhecido, que o psicanalista Sigmund Freud reproduziu, certa feita, para descrever este sentimento nobre do perdão e da felicidade.
Freud conta que certo autor, não lembro qual o nome, descreve a felicidade como ter uma casinha branca com flores nas janelas e com um lindo pomar, onde se avistam sete lindas árvores frondosas.
Em cada árvore, um inimigo pendurado. Neste momento, como bom cristão, ele os perdoaria, porém não antes de eles serem enforcados. Resumo da ópera: não somos bonzinhos.
“O Futuro de uma Ilusão” é uma obra freudiana que mostra como a religião tenta condicionar a humanidade a renunciar à selvageria. Mas, pelo conto acima – ora, ora, ora… – seriam os homens, então, maus por natureza e nem a religião os salvaria dos seus instintos selvagens?
Enfim, não tenho a resposta que o leitor espera. Entretanto, sempre acreditei que espiritualidade, fé, esperança, sonhos e projetos são sinônimos de saúde mental e, indubitavelmente, podem trazer algum nível de redução de sofrimento, satisfação, alegria e conforto frente às intempéries, permitindo uma aproximação do prazer, ainda que eventual.
Aliás, não acredito em felicidade perene, mas em momentos fugazes de prazer e de bem-estar que podem ser reconhecidos e denominados de felicidade. E não são por 365 dias consecutivos ou sequer 24 horas ininterruptas.
Um dos múltiplos caminhos para a felicidade é assumir o controle da sua própria vida, pois o conhecimento e o trabalho sempre lhe darão poder e liberdade de assumir as rédeas do seu destino e podem ser as saídas, únicas talvez, para a felicidade, ou para aquilo que se supõe que seja este tal status quo de ser feliz.
Seria a felicidade viver em uma zona de conforto? Ou felicidade é sentir-se desafiado e ser capaz de conquistar e superar obstáculos?
O grande filosofo prussiano Friedrich Nietzsche – 1844-1900 -, também poeta, compositor e crítico cultural, acreditava que a felicidade estava presente quando o sujeito podia exercer o seu poder para conquistar e realizar tudo aquilo que desejasse, inclusive a livre escolha de trabalhar apenas com o que lhe desse na telha e trouxesse prazer.
Este poder, assim, estaria ligado também ao seu trabalho e às conquistas de um sucesso de cunho pessoal e financeiro. Para este pensador, se o poder de fazer escolhas, que lhe dão a sensação de liberdade, é retirado, o sujeito se sente infeliz e fará de tudo para resgatá-lo e retomar o controle sobre as suas escolhas. Pergunta provocativa: o leitor tem o controle de suas escolhas?
Sócrates, filosofo grego – 469 a.C. – -399 a.C. -, que nunca escreveu uma única linha, mas que teve suas ideias difundidas, principalmente pelo seu discípulo Platão, também tinha uma visão muito própria sobre felicidade. Ele acreditava, inclusive, que o prazer, pela ausência da dor e do sofrimento, poderia ser experimentado em algum momento como uma pseudofelicidade.
Acho incrível essa percepção, pois a dor é o maior fantasma humano, e não a morte, como alguns pensam. Aliás, a morte, às vezes é a única saída para parar o sofrimento, e ao livrar-se da dor, vem o alívio que equivale ao próprio nirvana e o resgate da dignidade humana. E isso é felicidade.
Enfim, a concepção de felicidade não está ligada apenas ao princípio do prazer: a teoria freudiana fala em obtenção do prazer e simultaneamente em evitação do desprazer. Ou seja, afastar a dor e o desconforto.
Felicidade, talvez, é o que se sente, no meio de uma festa em que você está dançando muito, usando um sapato apertado, com salto agulha, de bico fino, modelo Luiz XV, e de repente lhe oferecem uma sandália rasteirinha, e você pode finalmente, liberar os dedinhos do pé e movimentá-los com muito alívio. Ufa! Nada há de melhor naquele instante, quase mágico, de afastar o desconforto e ser feliz por isso. Ou ainda, em uma noite fria e chuvosa, você poder puxar o seu pé e aquecê-lo sob um cobertor.
Também se trata de um momento de muita felicidade. Percebe-se, facilmente, que a infelicidade, esta sim, é muito mais provável de ser experimentada o tempo inteiro. O sofrimento e a dor, quer psíquicos, quer físicos, são sempre companheiros da trajetória humana, carreados pelo mundo externo, pelas fatalidades e pelas intempéries da vida.
Carreados pelos relacionamentos humanos, inclusive e principalmente, como resultado de um amor romântico frustrado, e ainda pelo corpo que é vitrine e palco, por ser portador de todos os nossos sentidos, que sofre e morre.
Mas aí já estou adentrando em outros temas: amor e corpo. Fica para um próximo encontro.
originalmente do JLPolitica.com.Br