A quem interessa desqualificar a psicanálise?

“Quando não somos capazes de entender alguma coisa, procuramos desvalorizá-la com críticas. Um meio ideal de facilitar a nossa tarefa”
Sigmund Freud

Foi lançado um livro de uma microbiologista que ficou famosa na pandemia da Covid-19 por esclarecer o importante papel das vacinas, em um período muito conturbado e, por conseguinte, prestando um grande e relevante serviço à população brasileira. Quando ela surgia na tela, eu vibrava: maravilhosa! Ela efetivamente defendia a ciência.

Pois bem, esta senhora, em parceria com o seu marido, que é um jornalista, resolveram escrever um monte de bobagens, classificando como pseudociências consagradas práticas de saúde no país, como psicanálise, acupuntura e homeopatia.

O livro recebeu notas de repúdio de associações ligadas a acupuntura e homeopatia, e inclusive do próprio Conselho Federal de Medicina diante da declaração destes autores de que tais práticas não passam de engodos e placebos.

Eles conseguiram com suas ideias alopradas e em um discurso raso, sem articular adequadamente os conceitos, fomentar reações enérgicas e inflamadas das sociedades que envolvem as três práticas citadas.

Caro leitor, de forma proposital não cito o nome dos autores desta estapafúrdia obra e nem o título, pois no que depender de mim, eles não conseguirão vender mais nenhum exemplar.

Esta senhora alega que no campo psicanalítico sequer existem estudos clínicos randomizados em revistas científicas. As instituições psicanalíticas manifestaram-se em massa, defendendo os benefícios da prática e apontando publicações científicas renomadas internacionalmente e muito sérias que trazem material suficiente para demonstrar a eficácia e o poder terapêutico na clínica.

Um dos muitos textos em defesa da psicanálise, escrito pelo psicólogo Claudio Castelo Filho, destaca que é muita pretensão achar que a natureza se limita àquilo que se pode tocar. E ressalta que ansiedade, desejo, amor, inveja, ódio não possuem uma métrica e ainda assim existem. Mas é possível mensurar, sim, os efeitos físicos e os comportamentos advindos destas emoções ou sentimentos.

A referida doutora disse que se surpreendeu com as reações a algo que ocupou menos da metade de um capítulo do seu livro e se arvora a dizer que ela e o marido são comunicadores de ciência e se autointitula, ainda, do alto de sua arrogância, que está apta e qualificada profissionalmente para falar sobre ciência para um público leigo.

Fico estarrecida de perceber alguém se outorgando o direito de proferir inescrupulosamente ataques a um determinado campo do conhecimento diferente do seu, e sem dele nada saber.

Ela se defende diante das críticas com um argumento curioso, dizendo que as críticas partiram de pessoas que sequer leram o livro dela. Podemos usar este mesmo discurso: ela nunca leu ou estudou a teoria psicanalítica, e provavelmente nunca sentiu os efeitos sobre si mesma, por nunca ter se submetido a um processo analítico. Então não faz sentido desqualificar a psicanálise sem conhecer a teoria, o método ou a eficácia.

O que se vê neste livro é a falta de fundamento científico nos seus ataques gratuitos e violentos à psicanálise, taxando-a de fraude, quimera ou pseudociência, revelando o desconhecimento radical total dos autores sobre aquilo que se propunham a debater e se propuseram a depreciar.

O que foi percebido foram ataques carregados de ódio, e sem embasamento científico. Estariam estes ataques de fúria amparados em motivações inconscientes? Ou talvez, seriam conflitos de interesse com a indústria farmacêutica?

Dê um desconto para mim, caro leitor, talvez eu esteja procurando de forma inadequada as respostas para tantas bobagens escritas por este casal. Perdoe-me pela ilação, talvez despropositada.

A verdade é que o movimento que deu início à psicanálise tirou do limbo uma infinidade de doentes mentais, estes sim, considerados fraudes até então, e desprezados pelos cientistas para os quais o inconsciente não existia.

As evidências dos bons resultados da psicanálise encontram-se nos nossos pacientes que depois dela passaram a viver melhor, menos infelizes, e com menos angústias e sintomas.

originalmente do JLPolitica.com.Br

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