Liberdade e Felicidade

A felicidade é como uma borboleta; quanto mais a perseguir, mais irá fugir – mas
se der atenção a outras coisas, a mesma irá acabar por pousar
gentilmente no seu ombro.

    Thoreau 1

Será que é possível encontrar uma forma de ser feliz? O que poderia acalmar essa busca desenfreada, se sequer sabemos o que efetivamente procuramos?

Será que a religião não nos daria esta sensação de completude que buscamos? Será que a religião poderia proteger as pessoas da dor e do sofrimento e, portanto, seria uma saída possível para se atingir a felicidade? Não tenho a resposta que o leitor espera, entretanto sempre acreditei que fé, esperança, sonhos e projetos, são sinônimos de saúde mental e, indubitavelmente, podem trazer algum nível de redução de sofrimento, satisfação, alegria e conforto frente às intempéries, permitindo uma aproximação do prazer.

Um dos múltiplos caminhos para a felicidade é assumir o controle da sua própria vida, pois o conhecimento e o trabalho sempre lhe darão poder e liberdade de assumir as rédeas do seu destino e podem ser as saídas, únicas talvez, para a felicidade, ou para aquilo que se supõe que seja esta tal status quo de ser feliz. Seria a felicidade viver em uma zona de conforto? Ou felicidade é sentir-se desafiado e ser capaz de conquistar e superar obstáculos?

O grande filosofo prussiano Friedrich Nietzsche (1844-1900)2, também poeta, compositor e crítico cultural, acreditava que a felicidade estava presente quando o sujeito podia exercer o seu poder para conquistar e realizar tudo aquilo que desejasse, inclusive a livre escolha de trabalhar apenas com o que lhe daria prazer. Este poder, assim, estaria ligado também ao seu trabalho e às conquistas e sucesso de cunho pessoal e financeiro. Para este pensador, se o poder de fazer escolhas, que lhe dão a sensação de liberdade, é retirado, o sujeito se sente infeliz e fará de tudo para resgata-lo e retomar o controle sobre as suas escolhas.

Sócrates, filosofo grego (469 a.C. – 399 a.C.)3, que teve suas ideias difundidas, principalmente, pelo seu discípulo Platão4, também tinha uma visão muito própria sobre felicidade. Ele acreditava, inclusive, que o prazer, pela ausência da dor e do sofrimento, poderia ser experimentado em algum momento como uma pseudo-felicidade. Acho incrível essa percepção, pois a dor é o maior fantasma humano, e não a morte como alguns pensam; aliás a morte, às vezes é a única saída para parar o sofrimento, e ao livrar-se da dor, o alivio equivale ao próprio nirvana e o resgate da dignidade humana.

Enfim, a concepção de felicidade não está ligada apenas ao princípio do prazer: a teoria freudiana fala em obtenção do prazer e simultaneamente em evitação do desprazer.

Percebe-se, facilmente, que a infelicidade, esta sim, é muito mais provável de ser experimentada o tempo inteiro. O sofrimento e a dor, quer psíquicos, quer físicos, são sempre companheiros da trajetória humana, carreados pelo mundo externo, pelas fatalidades e pelas intempéries da vida; pelos relacionamentos humanos, inclusive e principalmente o amor romântico; e pelo corpo que é portador de todos os nossos sentidos, que sofre e morre.

 

REFERÊNCIAS

1. HARDING, W. The days of Henry Thoreau. Nova York: Knopf, 1967.

2. FOUCAULT, M. Nietzsche, Freud e Marx. Theatrum philosoficum. Sao Paulo: Principio Editora, 1997.

3. MARTENS, E. A questão de Sócrates: uma introdução. Editora Odysseus, 2013.

4. MARINOFF, L. Pergunte a Platão. Record, 2006.

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