Nação de deprimidos e perspectivas de futuro

Nação de deprimidos e perspectivas de futuro

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que sou triste

Vinicius de Morais

Durante a pandemia, recebi um número gigante de novos pacientes queixando-se de depressão e de ansiedade. Justificava-se: estavam perdendo familiares e amigos ou tinham feito, eles próprios, uma internação de longa duração em decorrência da Covid-19. Muitos apresentavam Síndrome do Pânico ou um Transtorno de Estresse Pós-traumático. Estavam assustados! Eu também!

Porém fazendo uma retrospectiva nas suas biografias, eram pessoas que já padeciam destes males, porém nunca haviam buscado ajuda e naquele momento sentiram-se encurraladas, inclusive frente a avalanche de sintomas físicos: insônia, irritabilidade, agressividade, taquicardia, dispneia suspirosa, dor no peito, nó na garganta, labilidade emocional que os fazia chorar constantemente, ausência de libido, desmotivação, uma tristeza inexplicável.

Pessimismo e muitas vezes, sensação de morte que os levavam à emergência e ao medo da morte.

Existem situações que são imensamente desejadas e quando os sujeitos as conquistam, se assombram e deprimem.

Transtornos mentais são altamente democráticos: acometem a todos circunstancialmente, sem distinção. Uma destas condições é a aposentadoria.

Acho que a aposentadoria cria um sentimento equivocado de menos valia. Digo equivocado, porque o sujeito esquece a sua própria história, a sua produção pregressa e o quanto contribuiu com sua força laboral para o bem-estar, segurança e felicidade de sua família e do seu entorno. Mas, tenho visto no consultório casos assim. Que bom que alguns pedem ajuda!

Na verdade, as pessoas não estão preparadas para envelhecer e se aposentar. Assim como eu. E algumas entram em um processo de tristeza sem fim. Ouço muito uma máxima e até brinco e repito: o ser humano tem duas opções: ou envelhece ou morre cedo. Prefiro a primeira.

Mas como todo humano, sou pouco, ou nada evoluída, o que eu queria mesmo era ficar para semente.

Percebi, também, depois de uma eleição majoritária conturbada e polarizada, porquanto o radicalismo dos eleitores, que entramos em um período de cansaço e ressaca daquele pleito.

Os que votaram em Bolsonaro ficaram órfãos e os que votaram em Lula ainda não resgataram suas esperanças, inclusive as de comer picanha. Ou seja, estamos com mais um gatilho para transtornos mentais e depressão: a falta de perspectiva de futuro e desesperança.

Não me pergunte, prezado leitor, para onde caminha a humanidade. Não tenho respostas. É mais fácil teorizar e filosofar.

Acho importante frisar que banalizamos a palavra depressão e naqueles dias que estamos borocoxô nos referimos ao nosso humor como sendo deprimido. Mas depressão não é uma simples tristeza ou uma simples falta de energia para as nossas tarefas.

Aliás, frise-se que o próprio luto não é necessariamente uma depressão. Às vezes, perde-se um parente, um amigo querido, ou somos despedidos de um emprego, não conseguimos ser aprovados em um concurso, e este humor rebaixado é um luto, e é natural.

Não podemos patologizar as dores e frustrações do cotidiano, e tampouco medicalizar a normalidade.

A depressão é um transtorno que atinge 300 milhões de pessoas em todo o mundo com capacidade de promover prejuízos, haja vista interferir nas atividades da vida diária, nas relações afetivas e na vida laboral ou estudantil. No pior dos prognósticos, pode levar o sujeito em franco sofrimento. Ao suicídio.

Aliás, 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano e essa modalidade tornou-se a segunda causa de morte entre pessoas na faixa etária dos 15 aos 29 anos. A primeira são os acidentes. Fácil compreender. Os jovens acham que são imortais e têm superpoderes que os protegem de tudo, e por isso vivem no limite, assumindo riscos.

Apesar de ser uma doença passível de ser controlada com o uso de psicofármacos e psicoterapia, há um estigma social ainda vigente que faz com que apenas 10% dos deprimidos procurem ajuda profissional.

O pior não é isso, mas o fato de que mesmo quando essas pessoas procuram suporte, frequentemente não são diagnosticadas corretamente e, por conseguinte, não são tratadas adequadamente. Assim como existem pessoas que passam, por exemplo, por um processo normal de luto e são tratadas, desnecessariamente, com fármacos.

Quais seriam os gatilhos e ou causas da depressão? Esta resposta vem sendo buscada desde o século 19, quando o termo apareceu nos dicionários médicos. O primeiro Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais é relativamente jovem, 1952, quando nos foi possível catalogar e classificar os transtornos e, entre eles, a depressão.

Sabe-se que o deprimido carrega consigo combinações de cunho genético, psicológico, biológico e ambientais. A gravidade do quadro depende de condições específicas e individuais, concernentes às suas experiências de vida. Ou seja, à sua história.

E antes que eu me despeça, restam algumas orientações para você, caro leitor, e que podem ser úteis para terceiros também:

– Quebre seus preconceitos e indique ou procure ajuda de um psiquiatra e um psicoterapeuta de sua confiança.
– Não se automedique, mesmo que você seja médico.

– Siga as prescrições médicas. Nunca descontinue os remédios sem ajuda.

– Converse com um amigo sobre os seus sentimentos.

– Esteja em contato permanente com sua família e amigos.
– Atividade física diária – ao menos 30 minutos de caminhada -, preferencialmente ao ar livre para um banho de sol – vitamina D é necessária para a saúde física e mental.
– Tenha hábitos alimentares saudáveis e não pule as refeições.
– Estabeleça uma rotina para seu cotidiano.
– Higiene do sono: restringir telas quando for para cama.
– Abstenha-se do álcool.
– A crença em algo superior, a religião e a espiritualidade ajudam.

– Exercite o autocuidado.

Fui-me!

originalmente do JLPolitica.com.Br

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