Não se nasce mulher. Torna-se!

“Mas enquanto estou viva e cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz”. Rita Lee

Mulher é bicho esquisito, todo o mês sangra, um sexto sentido maior que a razão. Em virtude da proximidade com a data 8 de março, que homenageia as mulheres, nada mais justo que eu teça aqui alguns comentários inspirada em Rita Lee, uma revolucionária de carteirinha, sobre este bicho esquisito, que “todo o mês sangra” e tem “um sexto sentido maior que a razão”, mas que pelo lugar que ocupa socialmente, tem a capacidade de levar felicidade por onde passa.

Tomo de empréstimo uma das frases imortalizadas da filósofa feminista Simone de Beauvoir, mulher de vanguarda, para intitular este texto e lhes dizer que não se nasce mulher.

Calma, pois não me refiro nem a sexo e nem a gênero. Ser mulher é uma construção. E cada uma, uma a cada vez, torna-se mulher de um jeito diferente, de acordo com os seus desejos, sua história, sua família e amigos, dentro de um contexto social e no caldo cultural que vive. Não é moleza. Por isso, “não provoque, é cor de rosa choque”.

Ser mulher tem um peso, algumas vezes insustentável. Por um lado, ela tem que ser feminina e simultaneamente ter predicados que a tornem competente nas relações sociais – boa filha, boa mãe, boa amante, benquista por todos os amigos – e por outro.

Ela precisa ter ousadia e testosterona, para competir e ter independência financeira em um mundo ainda considerado masculino, num mercado de trabalho que pouco ou nada a valoriza, e quando alcança sucesso, gera inveja em homens e até, pasmem, em outras mulheres.

Como conseguir tudo isso em um pacote único, sem pagar algum preço? Este misto de perfeição que o imaginário social lhe cobra, requer renúncias e exige escolhas. E não necessariamente traz o sucesso e tampouco, a felicidade.
Escolher e saber o quê e quando escolher forjam uma grande vantagem, que pode trazer para as mulheres mais bem resolvidas e que sabem o que querem, grandes benefícios.

O problema é saber o que significa ser uma mulher bem resolvida. Seria, a que passou anos no divã de um psicanalista? Ou a que faz semblante de uma certa primeira-dama do país, reconhecida como a bela, recatada e do lar, em uma expressão que objetifica as mulheres? Ou ser bem resolvida seria aquela criatura, inspirada de  novo na Rita Lee, que diria “um belo dia resolvi mudar e fazer tudo o que eu queria fazer”?.

É importante lembrar que nem tudo o que elas pensam querer fazer, efetivamente elas desejam. Parece paradoxal. Mas as mulheres são assim também, e por isso sofrem neuroticamente e sentem-se culpadas com o peso de suas conquistas, que as obrigam a renunciar a alguns dos seus desejos em detrimento de outros, não necessariamente melhores, ou mais nobres: apenas escolhas e oportunidades que surgem a cada momento, construindo novos caminhos.

E afinal, o que é ser mulher? Quem sabe o que quer uma mulher? Quais são os seus desejos? O que a faria feliz? O que motiva uma mulher a tantas frentes de trabalho? Quem se arrisca a decifrar este enigma que é a mulher?

O pai da psicanálise, Dr. Sigmund Freud, desistiu da tarefa e disse que a deixaria a cargo de outros psicanalistas, quem sabe uma outra mulher. Tradução: até Freud não soube explicar e jogou a toalha, desistindo de entender estas criaturas endiabradas, mágicas e sábias.

Jacques Lacan, um psicanalista francês, disse que não existe nenhum significante que diga o que é mesmo uma mulher. Enfim, a mulher é indizível. Acho que ele estava certíssimo. Nada pode nomear e dizer o que ela é, ou que ela pode, porque ela pode ser o que ela quiser e ocupar qualquer espaço que desejar. O certo é que elas são incansáveis, inquietas, criativas, destemidas.

Para a nossa sorte, surgiram aquelas mulheres que rompiam as barreiras sociais e ao transgredir abriam novos caminhos. Viva essas transgressoras! Mulher certinha não faz história.

Hoje, cabe a nós mulheres reconhecer outras escolhas de destino – não necessariamente o casamento ou a maternidade como elementos de subjetivação feminina.

E o que não faltam são exemplos de mulheres que fizeram e fazem história e abrem com suas conquistas e essencialmente, com coragem, os caminhos que hoje usamos na nossa travessia.

Parabéns aos homens que conseguem dividir os seus espaços, sem competição e rivalidade, com todas estas incríveis mulheres: cada uma no seu jeito único de ser. Eles são uns sábios.

Homens e mulheres devem aprender que só a diferença promove o crescimento. Respeito e tolerância são elementos promotores de um bem-estar, em uma troca afetiva, onde ambos são essenciais, independentemente dos novos modelos de família que construam, juntos ou separados, porém irremediavelmente complementares.

originalmente do JLPolitica.com.Br

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