Sujeito prisioneiro da imagem

Insatisfação crônica e prazer são produto e promessa respectivamente, da mesma cultura. A cultura conseguiu desubstancializar o consumo, uma vez que se consomem imagens e se vive a desilusão das miragens. A propaganda, que se limitava a anunciar certo produto exaltando seus atributos, agora criou o seu próprio produto que é o consumidor ansioso e permanentemente entediado e insatisfeito (MAIA, 1998).

Existe no mundo contemporâneo, imediatista e sem individualidade, a adicção à imagem. Há aqueles viciados em álcool ou no jogo, outros em cigarro, aqueles que vivem para o trabalho, os que não param de pensar em sexo, os que não vivem sem um baseado e aqueles que só pensam na sua imagem física. Nas clínicas e academias, a beleza tem regras específicas de aparência e é mensurada e quantificada, uma vez que todos querem ter a mesma relação peso e altura, gordura e massa corporal, músculos tonificados.

O sujeito é capturado pela imagem divulgada pela mídia e por uma mensagem que é dirigida a qualquer um e a ninguém em particular, ou seja, o sujeito é fisgado por uma imagem ao mesmo tempo abrangente e vazia (KEHL, 2004).

A sociedade do consumo não quer e nem favorece a satisfação dos desejos. Os modelos de identificação divulgados através das imagens perfeitas não estão ali para serem alcançados, pois são vazios de conteúdo e são construídos artificialmente com recursos tecnológicos a partir de fragmentos da realidade.

O sujeito, na impossibilidade de ser eterno, se satisfaz em manter sua aparência jovial e esconde de si e dos outros que está envelhecendo. Um corpo que não aceita a ação do tempo e é eternamente jovem, artificialmente esculpido pelas cirurgias plásticas, traz o imperativo da aparência corporal que implica ser belo e perfeito como condição básica para ser feliz.

Esta felicidade, entretanto, traz um preço, que é ignorar o corpo particular, mortal e histórico, uma vez que no ideal contemporâneo não há lugar para a velhice ou mesmo para a morte. O corpo tem deixado de ser o veículo das sensações e do gozo. Tornou-se apenas aparência, é vazio, é para ser visto e consumido, e, na maioria das vezes, supera a importância da subjetividade do sujeito e da sua história pessoal.

REFERÊNCIAS

PIMENTEL, Déborah. Beleza Pura. Estudos de Psicanálise. Salvador, n. 31, out 2008, p. 43 – 49
MAIA, Marisa Schargel. Reprodução, imagem e a era da (des)ilusão. In: ANDRADE, Helena Manhães; CZERMAK, Rejane; AMORETTI, Rogério. Corpo e psicanálise. São Leopoldo: Editora Unisinos, 1998, p.199-212.
KEHL, Maria Rita. Visibilidade e espetáculo.I n: KEHL, M.R.;BUCCI,E. Videologias. SãoPaulo: Boitempo.2004.p.141-161.

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